terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Feliz ano novo, Batchan


E foi assim que minha batchan materna veio me falar “oi” pela primeira vez em sua nova forma.  Ela usava um vestido de verão feito pela minha mãe e tinha o rosto feliz-feliz como não se via há muito tempo.  

E assim, sorrindo, ela me disse sem palavras que estava muito bem.  Era alta noite do dia 30 de dezembro e tinha acabado de sair do hospital, assim pôde vir me ver na Espanha.  Disse que iria comemorar a virada do ano com meu ditchan e que podia enxergar de novo, como estava feliz...

Bem mais tarde, quando já era 2010, liguei para minha mãe:

- Eu queria estar ao seu lado - eu disse.
- Está tudo bem. - disse ela, como filha que jamais deixa de ser mãe. 
- Não sei se há condições de eu te desejar isso mas... feliz ano novo...
- Claro que há condições.  Foi um bom enterro, está tudo bem.
- Como pode um enterro ser bom?
- Não teve choradeira porque todos já estavam rezando para que ela pudesse descansar, ela sofreu por muito tempo...

Mesmo assim não passa a vontade de chorar quando penso que eu não pude estar lá e que agora eu só vou vê-la em sonhos.  Suas imagens passam na minha cabeça repetidamente, como num movimento para que eu jamais me esqueça.  Essa gravação de   nossos momentos em vida mundana dói.

Só passa quando penso que ela deve estar comendo kabotchá com minha outra batchan, agradecendo pelos recados que ela me dava em sonhos.  Devem estar ocupadíssimas, porque desde que consegui visitar uma no hospital em meio a uma fugaz escapada intercontinental por motivos natalinos que a outra não se deu ao trabalho de aparecer novamente.

Ou então ela voltou a escrever haikais, agora que ela enxerga novamente. Ela havia me contado que levava minha mãe-bebezinha junto com ela à casa vizinha para escrever com os amigos agricultores de Mirandópolis.  Será que um dia ela me mostra seus novos versos?  Hum, está mais que na hora de voltar a estudar japonês.

4 comentários:

lucy disse...

oi márcia, tudo bem?
sempre passo por aqui em silêncio, fico com vergonha de comentar, sei lá... coisa boba.
mas ao ler este post não tive como ficar quieta... acabei de voltar do almoço e estou aproveitando o restinho do horário e do nada resolvi passar por aqui.
fiquei sabendo da sua batian no dia 31, e enquanto comemorávamos com a (já) tradicional queima de fogos do tio carlos, pensei: nós aqui nesta festa, será certo?
não conheci sua batian, mas depois pensei que lá de cima ela também estaria bem e desejando um bom ano pra vocês...como o meu pai...meu ditian, minha batian...
bom, que seja um ótimo ano pra nós!

Beijos
p.s.: o leandro é super fã dos seus trabalhos. assim como eu.

Marcia Misawa disse...

Oi Lucy,
Foi uma surpresa muito gostosa ver seu comentário, fiquei muito feliz em receber tanto carinho.
Sim, com certeza minha batchan está bem. Eu imagino uma vida muito bonita pra quem já se foi, afinal eles nos dão sinais disso, não? Tomam conta da gente, cuidam para sempre tomarmos nossas decisões com o coração.
Muito obrigada mesmo, não imagina como foi gostoso receber sua mensagem. Manda um abraço para o Leandro, que sempre me dá a maior força aqui no blog!

bjos,
Marcia

Lilian disse...

Que lindo, Má!
Como sempre, sensível e com um dom de expressar toda a ternura em palavras.
Lembrei-me da nossa infância. Espero te encontrar novamente.
Um grande beijo!
Lilian

Marcia Misawa disse...

Oi Lilian, que surpresa boa você por aqui! Obrigada pela visita, fiquei MUITO contente.
Lembro de muitas cenas de nossa infância, ôoo como era bom, né?

beijão