sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz ano novo!

Cavalgata de Reyes - Boadilla del Monte, Madrid - 06/01/10

Ai... 2010 foi um ano tão, tão bom para mim que confesso que está sendo difícil me despedir.  Valeu por dois.  Passei a fazer café em garrafa térmica ao invés de coar direto na xícara; quase não pratiquei yoga; ganhei quilos, tonturas, dores de estômago.  A saúde está ameaçando fazer as malas, mas em compensação minha alma não reclamou de fome uma só vez, acho que vivi mais intensamente do que sou capaz.
Mudança de volta ao Brasil, início de uma pós encantadora, muitas amizades, reencontros, muitos conhecimentos novos e muito, muito trabalho.
Para mim foi um misto de alegria e dor no coração no Natal, quando alguém descreveu sua amiga secreta como alguém muito trabalhadora e meu filho não teve dúvidas de dar seu palpite: "é minha mãe!"
Embora o blog esteja com posts bem minguados, este ano do Tigre foi de muita luta, como estava prometido nas previsões do horóscopo.
O bom é que nessa mesma previsão dizia que 2011, meu ano, ano do Coelho, será ainda melhor!

Feliz ano novo para todos.  Que seja um ano de bela colheita e plantio de muitas novas sementes.

Marco zero do caminho de Santiago de Compostela - Finisterra - España - 03/2010

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Oficina Rebeca Luciani - São Paulo

Em agosto (é... faz tempo... vidinha corrida proporcionada pela nossa querida metrópole), fiz uma oficina com a ilustradora argentina Rebeca Luciani, que vive em Barcelona desde 2000.  Chica de energia maravilhosa, apaixonada pela vida, generosa ao partilhar seus conhecimentos, humilde e batalhadora, deixou todos encantados em sua oficina.  Rebeca veio de lá da Espanha trazida carinhosamente pela Larissa Ribeiro.  E vieram amantes da ilustração de todo o Brasil para este intenso curso.

Fizemos um livro sanfona com o intuito de explorar as sensações trazidas por cada cor, com um mural multicolorido atrás.  O meu se chamava Sonhos e no mural havia um mocinho dormindo debaixo da árvore (pobrezinho, não saiu na foto):


Grão de Chão

Aquarela para jornal interno da escola Grão de Chão, em São Paulo:


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Cyberbullying - SESC Santo André

Fiquei muito envolvida na pesquisa sobre Bulling e Cyberbullying para ilustrar este projeto.  Os agressores geralmente são pessoas com problemas de baixa autoestima que perseguem alguém que também tem baixa autoestima.  Ambos precisam de ajuda para que o ciclo se rompa e não venha a causar-lhes prejuízos mais sérios.  Mais uma prova de que a educação pautada no amor e no respeito à criança e ao jovem é mais eficaz. 

Estas são algumas das 8 ilustrações que estão expostas no SESC Santo André, de 8/10 a 30/10, na sala de Internet Livre:





Para saber mais sobre o assunto, visite o site http://www.bullying.com.br

E veja a programação do Sesc:  para minhas ilustrações aqui e a programação completa aqui.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Bicho homem - saiu do forno!

Ficou pronto o novo livro que ilustrei: Bicho homem, de Nelson Albissú, pela Cortez Editora.  Assim que chegar às livrarias eu aviso, por enquanto eu vi aqui, no site da editora.  Agora estou louca para conhecer esse filhote pessoalmente!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Do tabuleiro de doces

Aquarela para mais um projeto pessoal que nasceu na Espanha.  Este livro também é obra do coração e é segredo.

Cartas a papai

Estas são de um projeto pessoal pelo qual tenho muito, muito, MUITO carinho.  (Segredo, tá?)


Bicho Homem

Está para sair do forno o livro Bicho Homem, de Nelson Albissú, pela Cortez Editora...
Aqui, uma das ilustras que fiz:

Didáticos - Ed. Positivo

Ilustração de tabuleiro de jogo de percurso sobre os direitos da criança.




Ilustrações mesclando aquarela e digital.

Oficina com Claudia Ranucci em Madri

Em fevereiro/2010 fiz uma oficina com Claudia Ranucci, ilustradora italiana que vive na Espanha e que a essa altura deve estar com um bebezinho novo em casa.  Mais uma da querida Ilustrarte.  Foi inspirador ver o processo de trabalho dessa garota forte, linda e de desenho divertido.
 
São dela as ilustrações deste livro Cierra los ojos (Feche os olhos), de Victoria Pérez Escrivá, Ed. Thule.  É um diálogo entre dois irmãos, um deles deficiente visual, que nos faz enxergar a vida sob outra perspectiva.

Neste trecho, o texto diz assim:

"- Papai é alto e usa chapéu.
- Que é isso! Papai é um beijo que pinica e que cheira a cachimbo - diz, levantando os braços."


Ah!  Sim, nossa oficina.  Como sempre, foi muito bom também conhecer o trabalho dos colegas.  Numa oficina de fim de semana, cada um saiu com um storyboard de um mesmo texto e uma prancha finalizada como fosse possível.  Um dos desafios era utilizar algum material com que não estivéssemos acostumados ou com o qual penássemos muito.  E eis que assim mesmo surgiu este belo mural:



(o meu é o amarelinho da extrema esquerda)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Já em São Paulo

Ai ai ai, que vergonha... voltei já faz um booom tempo.  Voltei na Páscoa, já passou o dia das mães, já estamos falando de dia-dos-namorados-copa-do-mundo-festa-junina e um tiquinho mais vão ser férias escolares.  Tem sido dias muito atarefados estes de 2010, ano do Tigre, afinal.   Acho que os próximos posts serão no formato flash-back para eu poder contar um pouco de minha produção.

Enquanto isso, vou escrevendo para registrar tantos sentimentos vividos, pois o esquecimento vem ligeiro, já veio.  A rotina parece querer nos devorar e muitos sentimentos que haviam surgido tão claramente parecem começar a esmaecer.  Eu me nego a acreditar que isso é a tal da readaptação.

Talvez meu maior apuro seja que eu esteja lutando para que isso não aconteça, eu não quero me ver sufocada de novo numa rotina que foi tão difícil cortar.

Nós mesmos criamos as âncoras que nos impedem de navegar.  E quando percebemos, estamos ali atracados na mesma paisagem, olhando o mesmo horizonte, no sobe-desce da maré.  Não, não dá tempo de conhecer outras praias, há o convés para esfregar, o peixe para pescar... e assim, sem perceber, passamos nossa vida esfregando convés e pescando o peixe diário, sempre olhando para o mesmo horizonte.  Não pode ser assim, é muito fácil se tornar assim e também é difícil perceber que não é preciso que seja assim.

Minha luta interna tem sido não me render a antigas âncoras.  À medida que os armários vão sendo abertos, as lembranças vão saindo de dentro como heras sedentas e me tomam, se enroscam, me possuem.  E minha mente inicia a comandar movimentos mecânicos que já tinha aprendido neste horizonte, como ir à feira todos os sábados, por exemplo.  Eu costumava ficar de mau-humor de ter que ir à feira todo sábado de manhã.  E agora me vi voltando a ficar de mau-humor pelo mesmo motivo.  Precisei de um chacoalhão de meu marido para perceber que não, não preciso ir à feira exatamente todos os sábados de manhã.  Como é fácil voltar a antigos vícios...

E tem me parecido que o "retorno" é um terreno cheio de esporos de antigos vícios que precisam ser varridos.  E isso dá um trabalhão, viu, nunca imaginei.  É a desvantagem de começar a nova vida num lugar em que tudo já é conhecido.  Nossa mente começa a confundir "retorno" com "volta ao passado" e fica aflita.  É desgastante fazê-la crer que a vida continua indo para a frente, que não se trata de tentar se ajustar a um vaso que já não serve mais.

Às vezes me canso e penso em me render, pensar que assim é a vida mesmo.  Só que meu coração me exige essa faxina, porque assim ele tem mais espaço para praticar o que aprendeu de melhor nessa última jornada: a viver com mais amor à vida, coragem e simplicidade.

Conhecer uma nova cultura, uma língua, novos lugares e conhecer quadros famosos foi bom...  Porém, o bem mais precioso que trouxemos foi, sem dúvida alguma, a oportunidade que nossos corações tiveram de perceber o que é essencial para viver e a coragem que é preciso ter para viver o que é importante.

Não é fácil ser simples, mas sigo meu caminho com essa intenção.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O caminho que não ia a nenhuma parte

Esta foi feita em Kiriê, uma técnica japonesa em que o desenho é cortado com estilete em uma única folha de papel.  
Abaixo está um trecho do conto O caminho que não ia a nenhuma parte, de Gianni Rodari, que não deixa a gente desistir de nossos sonhos.

À saída do povoado haviam 3 caminhos: um ia em direção ao mar, o segundo até a cidade e o terceiro não ia a nenhuma parte.

Martim sabia disso porque havia perguntado a quase todos, e todos lhe haviam dado a mesma resposta:

- Aquele caminho?  Não vai a nenhuma parte.  É inútil ir por aí. (...)

Quando ficou grande o bastante para atravessar a rua sem precisar segurar a mão de seu avô, uma manhã se levantou bem cedo, saiu do povoado e sem titubear foi pelo misterioso caminho, sempre em frente.  (...)

Anda que anda, a galeria não acabava nunca, o caminho não terminava nunca.  (...)

- Então, você não acreditou?
- Em quê?
- Na história do caminho que não ia a nenhuma parte.
- Era muito estúpida.  E pela minha teoria, há mais partes que caminhos.
- Exato, é só ter vontade de andar.  Agora venha, vou lhe mostrar o castelo. (...)

Martim deu muitos presentes a todos, amigos e inimigos, e teve que explicar cem vezes a sua aventura, e cada vez que terminava de fazê-lo, alguém corria para casa para pegar uma carroça e um cavalo e tomava o caminho que não ia a nenhuma parte.

Mas naquela mesma noite todos regressaram, um após o outro, com a cara feia de raiva.  Para eles, o caminho terminava no meio do bosque, num espesso muro de árvores e num mar de espinhos.  Já não havia mais portão de ferro, nem castelo, nem linda dama.  Porque alguns tesouros só existem para os primeiros que empreendem um novo caminho, e o primeiro havia sido Martim Cabeça-dura.

El camino que no iba a ninguna parte
Gianni Rodari - Cuentos por teléfono - Editorial Juventud - Barcelona

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Feliz ano novo, Batchan


E foi assim que minha batchan materna veio me falar “oi” pela primeira vez em sua nova forma.  Ela usava um vestido de verão feito pela minha mãe e tinha o rosto feliz-feliz como não se via há muito tempo.  

E assim, sorrindo, ela me disse sem palavras que estava muito bem.  Era alta noite do dia 30 de dezembro e tinha acabado de sair do hospital, assim pôde vir me ver na Espanha.  Disse que iria comemorar a virada do ano com meu ditchan e que podia enxergar de novo, como estava feliz...

Bem mais tarde, quando já era 2010, liguei para minha mãe:

- Eu queria estar ao seu lado - eu disse.
- Está tudo bem. - disse ela, como filha que jamais deixa de ser mãe. 
- Não sei se há condições de eu te desejar isso mas... feliz ano novo...
- Claro que há condições.  Foi um bom enterro, está tudo bem.
- Como pode um enterro ser bom?
- Não teve choradeira porque todos já estavam rezando para que ela pudesse descansar, ela sofreu por muito tempo...

Mesmo assim não passa a vontade de chorar quando penso que eu não pude estar lá e que agora eu só vou vê-la em sonhos.  Suas imagens passam na minha cabeça repetidamente, como num movimento para que eu jamais me esqueça.  Essa gravação de   nossos momentos em vida mundana dói.

Só passa quando penso que ela deve estar comendo kabotchá com minha outra batchan, agradecendo pelos recados que ela me dava em sonhos.  Devem estar ocupadíssimas, porque desde que consegui visitar uma no hospital em meio a uma fugaz escapada intercontinental por motivos natalinos que a outra não se deu ao trabalho de aparecer novamente.

Ou então ela voltou a escrever haikais, agora que ela enxerga novamente. Ela havia me contado que levava minha mãe-bebezinha junto com ela à casa vizinha para escrever com os amigos agricultores de Mirandópolis.  Será que um dia ela me mostra seus novos versos?  Hum, está mais que na hora de voltar a estudar japonês.